As Ășltimas palavras de Santa Teresinha do Menino Jesus
- Tete Maria Teresa Rosa
- 28 de out. de 2021
- 4 min de leitura

30 DE SETEMBRO, 1897 -
QUINTA-FEIRA
Dia da morte da IrmĂŁ Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face. Suas irmĂŁs tomaram nota de suas palavras e gestos nos Ășltimos meses de sua vida.
Na caderneta amarela (Ăltimos colĂłquios), a IrmĂŁ InĂȘs (Paulina) narrou o que foram os Ășltimos momentos vividos por sua irmĂŁzinha.
Segue o texto das anotaçÔes de Paulina:
De manhĂŁ, durante a missa, permaneci a seu lado. NĂŁo me dizia uma palavra. Estava esgotada, ofegante; seus sofri mentos, eu o adivinhava, eram inexprimĂveis! Num dado momento, juntou as mĂŁos e, olhando para a imagem da SantĂssima Virgem: Oh! Eu a invoquei com tanto fervor! Mas Ă© a agonia pura, nenhuma sombra de consolação!...
Disse-lhe algumas palavras de compaixão e afeto, e acrescentei quanto ela me tinha edificado no transcorrer de sua doença.
E vós?... As consolaçÔes que me destes!... Ah! Foram bem grandes!
O dia todo, sem um instante de trégua, ela permaneceu, e pode-se dizer sem margem de exagero, em verdadeiros tormentos. Parecia estar no limite de suas forças e, contudo, para nossa grande surpresa, ainda conseguia se mover e sentar-se em seu leito. ...Vede - dizia-nos - quanta força tenho hoje! Não, não vou morrer! Talvez, ainda resista meses; quem sabe, anos!
E se o Bom Deus o quisesse? - perguntou-lhe Nossa Madre. NĂŁo o aceitarĂeis? Em sua angĂșstia, começou a responder:
Teria de ser mesmo... Mas, retificando imediatamente, disse com um tom de sublime resignação, recaindo sobre os travesseiros: Eu o aceito!
Consegui recolher estas exclamaçÔes, mas Ă© impossĂvel dar-lhes a entonação com que foram pronunciadas: NĂŁo acredito mais na morte para mim... SĂł acredito no sofrimento. Pois bem, tanto melhor! Oh, meu Deus!... Eu amo o Bom Deus! Oh, minha bondosa Virgem SantĂssima! Vinde em meu socorro! Se isto Ă© a agonia, o que serĂĄ a morte?!... Ah! Meu BOM Deus!... Sim, ele Ă© muito bom; eu o acho muito bom...
Olhando para a SantĂssima Virgem: Oh! Sabeis como sufoco!
A mim: Se soubésseis o que é sufocar!
O Bom Deus irĂĄ vos ajudar, pobre menina. Em breve, tudo estarĂĄ acabado!
Sim, mas quando? Meu Deus, tende piedade de vossa pobre filhinha! Tende piedade!
à Nossa Madre: Oh, Nossa Madre! Asseguro-vos: o cålice estå cheio até a borda!... Mas o Bom Deus, com toda a certeza, não me abandonarå! ...Ele nunca me abandonou. Sim, meu Deus, tudo o que quiserdes, mas tende piedade de mim! Minhas irmãzinhas! Minhas irmãzinhas! Rezai por mim! Meu Deus! Meu Deus! Vós que sois tão bom!!! Oh! Sim, sois bom! Eu o sei!
Depois de VĂ©speras, Nossa Madre colocou sobre seus joelhos uma estampa de Nossa Senhora do Carmo. Ela a contemplou por um instante, e disse, quando Nossa Madre lhe assegurou que, em breve, estaria acariciando a Virgem Maria como o Menino Jesus nessa estampa: Oh, Nossa Madre! Apresentai-me rĂĄpido Ă SantĂssima Virgem; sou como um bebĂȘ que nĂŁo aguenta mais! Preparai-me para morrer bem!
Nossa Madre respondeu-lhe que, por ter entendido e praticado sempre a humildade, sua preparação jå estava feita. Refletiu um instante e pronunciou humildemente estas palavras:
Sim, parece-me que nunca procurei senão a verdade; sim, compreendi a humildade de coração... Parece-me que sou humilde.
Frisou ainda: Tudo o que escrevi sobre meus desejos de sofrer, oh, apesar de tudo, Ă© bem verdade! NĂŁo! NĂŁo me arrependo de me ter entregue ao Amor!
Com insistĂȘncia: Oh! NĂŁo me arrependo; ao contrĂĄrio!
Um pouco mais tarde: Jamais pensei ser possĂvel sofrer tanto! Jamais! Jamais! NĂŁo posso explicar isso senĂŁo pelo meu ardente desejo de salvar almas!
Pelas 5:00hs, estava sozinha junto dela. Seu rosto mudou-se de repente; compreendi que era a Ășltima agonia.
Quando a comunidade entrou na enfermaria, acolheu todas as IrmĂŁs com um doce sorriso. Segurava seu crucifixo e olhava-o constantemente. Durante mais de duas horas, terrĂvel estertor lancinou-lhe o peito. Seu rosto estava congestionado, suas mĂŁos violĂĄceas; tinha os pĂ©s gelados e tremia em todos os seus membros. Gotas enormes de abundante suor inundavam-lhe a fronte, deslizando-lhe pelas faces. Estava numa opressĂŁo sempre maior, e, para respirar, soltava de vez em quando gritinhos involuntĂĄrios. Durante esse tempo, tĂŁo angustiante para nĂłs, ouvia-se pela janela - e eu sofria muito por causa disso - mil gorjeios de pintarroxos e de outros pĂĄssaros menores, mas tĂŁo forte, tĂŁo perto e por tanto tempo!... Suplicava ao Bom Deus para que os fizesse calar. Este concerto transpassava-me o coração e temia que cansasse nossa pobre Teresinha.
A certo momento, parecia ter a boca tĂŁo ressequida que IrmĂŁ Genoveva, pensando em aliviĂĄ-la, colocou-lhe sobre os lĂĄbios um pedacinho de gelo. Ela aceitou-o, dando-lhe um sorriso, que jamais poderei esquecer! Era como um supremo adeus.
Ăs 6:00hs, quando soou o Angelus, ela olhou demorada mente para a SantĂssima Virgem. Enfim, Ă s 7:00hs e alguns minutos, vendo Nossa Madre dispersar a comunidade, suspirou:
Nossa Madre! NĂŁo Ă© ainda a agonia?... NĂŁo morrerei?...
Sim, minha pobrezinha, Ă© a agonia; mas o Bom Deus quer, talvez, prolongĂĄ-la por algumas horas. Retomou, entĂŁo, com coragem:
Pois bem!... Vamos!... Vamos!... Oh! NĂŁo quisera sofrer menos tempo...
E olhando para seu crucifixo: Oh! Eu o amo!...Meu Deus... Eu vos amo!...
Imediatamente depois de ter pronunciado estas palavras, caiu docemente para trås, a cabeça inclinada à direita. Nossa Madre mandou tocar rapidamente o sino da enfermaria para chamar a comunidade de volta.
"Abri todas as portas"- dizia ela ao mesmo tempo. E essas palavras possuĂam qualquer coisa de solene. Fizeram-me pensar que, no Anjos! CĂ©u, o Bom Deus tambĂ©m as estaria dizendo aos seus Anjos.
Mal as IrmĂŁs tiveram o tempo de se ajoelharem ao redor de seu leito, foram testemunhas do ĂȘxtase de nossa santinha moribunda. Seu rosto retomara a mesma cor de lĂrio que tinha na plena saĂșde; seus olhos fixaram-se no alto, brilhantes de paz e alegria. Fazia com a cabeça graciosos movimentos, como se AlguĂ©m a tivesse divinamente ferido com uma flecha de amor, e depois a retirasse para feri-la de novo...
IrmĂŁ Maria da Eucaristia aproximou-se com uma vela para ver mais de perto seu sublime olhar. A luz dessa vela nĂŁo se percebeu nenhum movimento em suas pĂĄlpebras. Este ĂȘxtase durou mais ou menos o espaço de um Credo, e ela exalou, entĂŁo, o seu Ășltimo suspiro.
ApĂłs a morte, ela conservou um celeste sorriso. Era de uma beleza encantadora! Segurava tĂŁo fortemente seu crucifixo que foi preciso arrancĂĄ-lo de suas mĂŁos para amortalhĂĄ-la. Irma Maria do Sagrado Coração e eu cumprimos este ofĂcio, ajudadas tambĂ©m por IrmĂŁ Amada de Jesus, e verificamos, entĂŁo, que nĂŁo aparentava mais de doze ou treze anos.
Seus membros permaneceram flexĂveis atĂ© sua inumação, na segunda-feira, 4 de outubro de 1897.